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Anos 70

Antigamente

Nos anos 70 e 80 o restaurante A Gruta gerava vida urbana e dinamizava o espaço envolvente. Depois, deu-se a decadência do espaço e passou a servir de vestiários dos funcionários do parque de Santa Catarina. A gruta, espaço anteriormente percorrido e visitado pela população em geral e por turistas, tornou-se oculta e esquecida, votada ao abandono e à deterioração promovida pela inúmeras infiltrações de água provenientes da falta de consolidação rochosa e desleixo pela preservação do espaço.

Reabilitação em 2019

A reabilitação da Gruta enquanto desafio, foi proposta pela Câmara do Funchal, que através de concurso público lançou a pretensão de devolver à cidade este espaço para aí se voltar a instalar o antigo uso que lhe deu carisma, um estabelecimento de restauração, cujas memórias se pretendem despertar.

Os trabalhos para a sua devolução à cidade foram intensos. Todo o espaço da gruta foi analisado, consolidado, reparado. As águas foram reconduzidas devidamente, o tanque de esgotos, que ali se havia construído, foi devidamente deslocado e eliminado do seu interior, de modo a tornar o espaço habitável e a retomar o antigo esplendor. Durante as obras foi redescoberta uma segunda câmara que se encontrava emparedada tendo-se procedido à interligação dos dois ocos da gruta. Assim, a câmara-mãe e a câmara menor encontram-se agora unidas por um pequeno túnel e o simbolismo apoderou-se da gruta como forma de intervenção.

A remodelação e arquitectura interior foi idealizada pelo gabinete de arquitectura António Fernandez Architects. O conceito subjacente a toda a intervenção prende-se com o tema gruta enquanto espaço natural modelado pela natureza e talhada pela acção da água. A proximidade deste vazio ao mar incutiu o tema marítimo e encheu de magia náutica o espaço. Deste modo, partindo-se do programa previamente definido para a reinstalação do estabelecimento de restauração, pretende-se agora oferecer à cidade um espaço dinamizador, designadamente, um estabelecimento de restauração e bebidas carismático e inovador, que tire partido do que melhor o espaço tem para oferecer, ou seja, a rocha e o vazio nela talhado pelas “mãos” hábeis da natureza. Pretende-se, pois, recuperar a gruta na sua essência e enfatizar esta particularidade como mais valia para o programa a instalar.

Assim, quem se aproxima da gruta de Santa Catarina, onde agora uma imagem em barro branco recria o martírio de Catarina de Alexandria, é chamado à atenção pelo bando de pássaros estilizados (freira da madeira) que sai esvoaçando para o exterior. Lá dentro a atracção do espaço conduz a algo completamente novo. A reinterpretação da gruta foi pensada em cada detalhe. Do geral ao pormenor nada é feito ao acaso. A água que outrora escorria e pendia através das fissuras do tecto foi cristalizada e agora águas douradas escorrem pelo tecto, pendem dele e ficam assim suspensas no tempo. Hoje podemos ver uma gruta preciosa que se descobre e se fica extasiado com tanto esplendor. A sala de refeições instalada na grande câmara diferencia-se em diversos espaços conformados pelas diferentes alturas que a natureza atribuiu àquele oco e que o revestimento dourado lhe impõe mais ênfase. Na parede posterior de rocha uma baleia esculpida em metal relembra-nos o quão pequeno é o homem perante a natureza, e revela o seu poder perante a “frágil” nau que alheia à sua presença navega sobre esta no mar. E por todo o espaço cristais luminosos pendem do tecto juntamente com pingos de ouro. É pura e simplesmente a gruta dourada e mágica que alberga pássaros no silêncio da noite e onde durante o burburinho do dia e da vida nocturna, o “marinheiro” cansado encontra um lugar para relaxar, apreciar, ou para se votar à contemplação num mundo fantástico.

Encaixada, por entre pingos gotejantes aninha-se a cozinha, destacando-se pelo seu revestimento em cobre. O túnel de ligação entre câmaras assume a estrutura de reforço em ferro e dos nichos cavados nas suas paredes, que albergam garrafas, irrompem luzes veladas que surpreendem o olhar e transmitem mistério. A pequena câmara surge como mais um espaço cénico surpresa. Do seu tecto, bóias náuticas que outrora flutuavam no mar iluminam o espaço. O mar aqui tem força e presença, e a decoração faz-lhe tributo. A partir deste espaço acede-se às instalações sanitárias dos utentes, à zona de serviço dos funcionários e armazém, que conformam o espaço ampliado, que se localiza sob o antigo jardim triangular que se adoçava à gruta. O outrora espaço exterior de esplanada foi repensado e redesenhado e, em socalcos, tira partido da cobertura da área ampliada, prolongando-se nela, de forma descomprometida, pelo verde do pavimento. Aqui, de forma aleatória repousam grandes “calhaus” escuros, como se o mar para ali os tivesse levado. E depois plantas floridas rematam o rude muro do túnel rodoviário, camuflando-o. É um véu de flores que escala a parede bruta e tentam ocultá-la. É um véu de flores que levanta voo, transportado magicamente por um francelho que se eleva no ar.

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